Pertencimento não é um ponto de chegada — é um caminho emocional e identitário
Mudar de país é mais do que uma decisão logística — é um mergulho profundo em quem você é. Apesar do que muitos imaginam, o sentimento de pertencimento não surge ao cruzar fronteiras, nem se instala ao decorar o idioma local. Ele é construído com tempo, vivência e enfrentamento emocional. Neste artigo, você vai entender por que pertencer é um processo emocional e identitário, conhecer as 4 fases da adaptação cultural segundo a psicologia intercultural, e descobrir como a psicoterapia pode ser um apoio potente nesse percurso. 🌍 Se você já se sentiu fora de lugar mesmo estando “no lugar certo”, este texto é para você.
4/21/20252 min read
Pertencimento não é um ponto de chegada — é um caminho emocional e identitário
Quando uma pessoa muda de país, ela não está apenas trocando de endereço ou idioma. Ela está entrando num processo profundo de reconstrução emocional, social e cultural.
E esse processo — ao contrário do que muitos acreditam — não é automático, nem imediato.
De acordo com a Psicologia Intercultural, especialmente pelos estudos de Berry, a adaptação cultural envolve muito mais do que aprender a língua local ou conseguir um emprego. Ela passa por transformações internas que tocam diretamente quem a pessoa é, como se sente e como se posiciona no novo ambiente.
🔍 Pertencimento: uma peça-chave da adaptação emocional
O sentimento de pertencimento é considerado um dos pilares emocionais mais importantes na adaptação de pessoas que vivem fora do seu país de origem.
Ele está diretamente ligado à capacidade de:
Criar novos vínculos sociais e afetivos;
Sentir-se emocionalmente seguro e respeitado no novo contexto;
Reconciliar a própria identidade cultural de origem com os novos valores, hábitos e padrões do país onde se vive.
Em outras palavras: não basta “estar” num lugar — é preciso se sentir parte dele.
Mas isso não acontece de um dia para o outro.
🌀 As 4 fases da adaptação cultural
Berry propõe um modelo em que a adaptação cultural acontece em quatro etapas principais, que muitas vezes se repetem, se sobrepõem ou se prolongam:
🟢 1. Euforia inicial (ou "lua de mel")
A fase em que tudo parece novo, interessante, estimulante. A pessoa sente entusiasmo e curiosidade em relação ao novo país.
Exemplo: “Nossa, aqui tudo funciona!”, “É tão diferente e bonito”, “Vou viver o melhor da minha vida aqui!”
🔴 2. Crise ou desilusão cultural
Depois da euforia, vem o choque: o idioma cansa, os hábitos são estranhos, a saudade aparece.
A pessoa pode se sentir frustrada, sozinha, deslocada ou até arrependida.
Exemplo: “Não consigo me expressar como eu gostaria”, “Ninguém me entende”, “Será que fiz a escolha certa?”
🟡 3. Ajustamento
Com o tempo, a pessoa começa a entender as regras não-ditas, adaptar seus hábitos, desenvolver estratégias de enfrentamento emocional e social.
Exemplo: “Aprendi a lidar com isso”, “Já sei onde comprar as coisas do meu jeito”, “Consigo conversar com mais confiança.”
🔵 4. Integração (ou enraizamento)
A fase mais avançada: quando a pessoa sente que pode viver com autenticidade, unindo partes de quem ela sempre foi com o que aprendeu no novo lugar. Aqui, o pertencimento real começa a surgir.
Exemplo: “Me sinto bem aqui”, “Tenho vínculos verdadeiros”, “Posso ser eu mesmo.”
⏳ Mas atenção: esse processo leva tempo.
O sentimento de pertencimento não surge na chegada.
Ele é construído com vivência, conflito, escuta, reavaliações e acolhimento interno.
Cada pessoa tem seu ritmo — e tudo bem se o seu ainda estiver em construção.
💡 Como a psicoterapia pode ajudar nesse processo?
A psicoterapia é mais do que um espaço de escuta — é um ponto de apoio emocional quando tudo à sua volta parece ter mudado.
Morar fora pode despertar sensações difíceis de nomear:
👉 Uma mistura de empolgação e solidão.
👉 Um sentimento de estar entre dois mundos, sem pertencer completamente a nenhum.
👉 Dúvidas sobre quem você está se tornando longe de tudo que era familiar.
A psicoterapia ajuda a:
✔ Elaborar os sentimentos ambíguos de estar em trânsito entre culturas, idiomas, vínculos e versões de si mesmo.
✔ Nomear medos, angústias e confusões identitárias, dando forma e sentido ao que antes era só um nó interno.
✔ Encontrar equilíbrio entre se adaptar e permanecer fiel à sua essência, sem precisar se apagar para ser aceito.
✔ Sustentar as dores do deslocamento sem se endurecer emocionalmente, acolhendo suas fases com compaixão.
✔ Reconstruir uma sensação de pertencimento real, onde você possa viver com verdade, presença e autenticidade.
🌱 Não é sobre voltar a ser quem você era — é sobre se permitir ser quem está nascendo agora.


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